Janeiro: mês de conscientização sobre a hanseníase

A hanseníase é uma doença que atravessa a história e, ainda hoje, não é bem compreendida pela população. Já no século VI a.C havia referências ao bacilo Mycobacterium leprae, causador do agravo. A falta de conhecimento fazia com que as pessoas a confundissem com outras doenças, principalmente as dermatológicas e venéreas.

É uma doença infecciosa de caráter crônico, inflamatório e sistêmico, porém curável. Ela afeta principalmente a pele, os olhos, o nariz e os nervos periféricos, causando, sobretudo, lesões de pele e danos aos nervos, o que pode gerar incapacidades físicas. Em 2020, foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 127.396 casos novos da doença no mundo. Desses, 19.195 (15,1%) ocorreram na região das Américas e 17.979 foram notificados no Brasil, o que corresponde a 93,6% do número de casos novos das Américas. Brasil, Índia e Indonésia reportaram mais de 10 mil casos novos,correspondendo a 74% dos casos novos detectados no ano de 2020. Nesse contexto, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior número de casos novos no mundo, atrás apenas da Índia.

Novas técnicas

No último ano, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS) recomendou o uso, pelo SUS, de três novas análises laboratoriais para auxiliar as ações de controle da hanseníase. Após a aprovação pela Conitec, o Ministério da Saúde (MS) está em processo de aquisição dos insumos para implantação desses exames. Será implantado nas unidades de saúde um teste rápido sorológico (detecção de anticorpos) que, aliado à avaliação clínica e baciloscopia, vai auxiliar na identificação de contactantes com maior risco de desenvolver a doença, além de apoiar a definição da classificação operacional de pacientes para fins de tratamento.

Além da realização da sorologia nas unidades assistenciais, serão incorporados pelos Lacens o exame de qPCR (PCR em tempo real) para detecção do bacilo em amostras de biópsias e também um exame molecular para avaliação da resistência do Mycobacterium leprae aos antibióticos atualmente utilizados no tratamento. As estratégias e cronogramas dessa implantação serão definidos pelo MS.

Coordenação de Hanseníase

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Coordenação de Hanseníase, participou da construção da Estratégia Nacional de Enfrentamento da Hanseníase (ENEH) 2023-2030, a convite da Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças em Eliminação (CGDE/DCCI/SVS), do Ministério da Saúde, em consonância com a Estratégia Global de Hanseníase 2021–2030 – “Rumo à zero hanseníase” da Organização Mundial da Saúde.

O lançamento da ENEH 2023-2030 está previsto para acontecer no seminário “Hanseníase no Brasil: da evidência à prática”, em alusão à campanha Janeiro Roxo, no período de 24 a 27 de janeiro de 2023, em Brasília (DF), sendo que a coordenação de hanseníase da SES-MG foi convidada a participar a solenidade. Segundo a subsecretária de Vigilância em Saúde da SES-MG, Hérica Vieira Santos, buscando fortalecer o enfrentamento à hanseníase, foi elaborado um plano estadual de enfrentamento à doença, com pilares estratégicos de atuação para os diferentes serviços de vigilância e atenção à saúde.

“Com a implementação do plano, espera-se alcançar as seguintes metas: aumentar a detecção geral de casos novos em 10%; reduzir a proporção de casos novos em menores de 15 anos em 20% (de 5 para 4%) e reduzir a proporção de casos novos com grau 2 de incapacidade do parâmetro”, conta. A subsecretária acrescenta ainda que, em 2018, foi instituído o Comitê Estadual de Enfrentamento da Hanseníase, que é intersetorial e tem caráter consultivo. “Em maio de 2021, o Comitê foi reestruturado, realizando reuniões periódicas de auxílio aos compromissos políticos do estado e municípios”, ressalta Hérica Santos.

Informação como aliada

Para a chefe do SDBF da Funed, Carmem Faria, a população em geral e até profissionais de saúde têm pouco conhecimento sobre a doença. “Faltam informações nas mídias e nas unidades de saúde, sobre, por exemplo, quando o cidadão deve procurar atendimento, para que seja iniciado o tratamento precoce. O estigma da doença e o preconceito também interferem nesse processo. A doença não tratada, ou tratada tardiamente, pode levar o paciente a incapacidades físicas permanentes, enquanto o tratamento precoce leva o paciente à cura sem sequelas”, ressalta Carmem.

A farmacêutica-bioquímica também considera que a falta de capacitação para os profissionais de saúde impacta o diagnóstico e o controle da doença. “A formação desses profissionais aborda muito pouco a hanseníase, e o conhecimento fica mais restrito a especialidades médicas como dermatologia e neurologia. O investimento na capacitação das equipes de saúde da família, do agente comunitário aos médicos, é fundamental para o diagnóstico e tratamento precoces, com consequente controle da doença”, enfatiza. A Funed, mediante parcerias e demanda da coordenação de hanseníase da SES-MG, realiza treinamentos para profissionais de saúde do estado e capacitações pontuais na leitura e interpretação da baciloscopia.

Sinais e sintomas

– Sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades (mãos e pés).
– Manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato.
– Áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor.
– Caroços e placas em qualquer local do corpo.
– Diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos).
– Formação de garras ou feridas difíceis de curar em mãos e pés.
– Coceira, irritação ou dificuldade para fechar os olhos.

A transmissão ocorre por meio de pessoas infectadas e não tratadas, que eliminam os bacilos pelo aparelho respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro), sendo necessário um contato próximo e prolongado. Como o domicílio é um importante local para a transmissão do bacilo, familiares de pacientes estão mais expostos e, consequentemente, possuem maior probabilidade de adoecimento. Tocar no paciente com hanseníase não transmite a doença. O paciente em tratamento regular deixa de transmitir a doença e, os que já receberam alta, são curados e não a transmitem mais.

A maioria das pessoas que entram em contato com esse bacilo não desenvolve a doença por possuir defesa natural (imunidade) contra o M. leprae, portanto a maior parte da população que tiver contato com o bacilo não adoecerá. Fatores ligados à genética humana são responsáveis pela resistência (não adoecerem) ou suscetibilidade (adoecerem). O período de incubação da doença é bastante longo, variando em média de dois a sete anos, mas pode ultrapassar 10 anos.

A hanseníase tem cura. O tratamento é feito nas unidades de saúde e é gratuito. O diagnóstico precoce e tratamento adequado da doença favorecem o controle da transmissão e a prevenção de incapacidades físicas. O tratamento é administrado por via oral, constituído pela associação de três medicamentos e é denominado poliquimioterapia única. A prevenção também baseia-se na investigação de contatos, bem como, em ações educacionais direcionadas aos profissionais de saúde e população.

Atualmente, muito se avançou no diagnóstico e no tratamento. O preconceito, porém, persiste e faz com que algumas pessoas ainda se isolem ou sejam excluídas do convívio social quando a doença é identificada. O diagnóstico da hanseníase é feito, essencialmente, pela avaliação clínica do paciente, que inclui a identificação da presença de lesões na pele e nos nervos, de áreas com perda de sensibilidade e manifestação de outros sinais e sintomas, principalmente na face, mãos e pés. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) atua de forma complementar no fechamento dos casos, com os exames laboratoriais.

A chefe do Serviço de Doenças Bacterianas e Fúngicas (SDBF) da Funed, Carmem Dolores Faria, conta que, atualmente, o exame laboratorial indicado e disponível, na rotina de controle da hanseníase, é a baciloscopia. “O diagnóstico da doença é essencialmente clínico. A baciloscopia é utilizada como um apoio, para auxiliar o médico na classificação da doença, o que contribui para uma melhor definição do tempo de tratamento. O exame é feito pelos municípios e a Funed, por meio do Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), atua no controle de qualidade e no esclarecimento de eventuais dúvidas que os laboratórios clínicos, sejam eles públicos ou particulares, possam apresentar”, explica a farmacêutica-bioquímica da Funed. Conheça mais sobre o trabalho da Funed no controle da hanseníase neste vídeo.

Apoio no tratamento

Atualmente, a Funed é a única produtora no país da Talidomida, medicamento estratégico importante no contexto da saúde pública, utilizado para atender aos programas de hanseníase, lúpus e HIV do Ministério da Saúde. A produção da Talidomida 100mg na indústria farmacêutica da Fundação teve início em 1973. Em função dos seus efeitos teratogênicos (que pode causar alterações na estrutura do embrião ou do feto) comprovados, a utilização dos medicamentos que contêm talidomida exige uma série de medidas de controle, a exemplo de produção, prescrição e dispensação.

O tratamento da hanseníase deve ser feito com uma combinação de antibióticos, denominada poliquimioterapia única (PQT-U). Já a Talidomida é usada no tratamento do Eritema Nodoso Hansênico (ENH), que é uma reação crônica da hanseníase. O diretor Industrial da Funed, Bruno Gonçalves Pereira, explica que, atualmente, a Talidomida é primeira escolha no tratamento do ENH, conforme previsto nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do MS. “O ENH pode ocorrer nas pessoas acometidas pela hanseníase durante ou após o tratamento da infecção. Com o uso do fármaco, os pacientes têm rápido desaparecimento dos sintomas, como inchaços vermelhos e doloridos na pele, febre e mal-estar geral”, detalha.

Fonte: ASCOM Funed

Mais informações com a assessora técnica de Saúde da AMM, Juliana Marinho, pelo WhatsApp (31) 2125-2400.

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